É tempo de festa no Rio de Janeiro, onde o carnaval de rua está de volta após dois anos de privação pelo Covid

Música

O carnaval do Rio não é apenas sobre o Sambódromo. Espera-se que cinco milhões de pessoas tomem as ruas da cidade brasileira, que está a regressar aos desfiles do seu bairro após dois anos de cancelamento devido à crise sanitária.

Coberta da cabeça aos pés em lantejoulas douradas, a brasileira Vera Lucia da Silva está pronta para desfrutar ao máximo do carnaval de rua do Rio de Janeiro, de volta após uma espera de três anos devido à Covid. “Para nós, cariocas (residentes do Rio), o carnaval é o melhor! As pessoas misturam-se, todos ficam felizes”, disse a senhora da limpeza de 58 anos à AFP ao acenar freneticamente com o seu ganzá (instrumento de percussão) durante um desfile do “bloco” Céu da Terra, uma das 400 procissões permitidas na “Cidade Maravilhosa”.

No fim-de-semana anterior ao início oficial do Carnaval (sexta-feira 17), os desfiles já estão a decorrer nas ruas. De manhã cedo, a música é alta, a cerveja flui e a multidão treme ao ritmo do samba.

O regresso de Lula também é celebrado
O famoso carnaval, cujas festividades se dividem entre as procissões de rua durante o dia e o grandioso espectáculo das escolas de samba à noite, foi totalmente cancelado em 2021 por causa da pandemia, que matou quase 700 000 pessoas no Brasil. Em 2022, o carnaval foi transferido para Abril e a Câmara Municipal só permitiu que o desfile das escolas se realizasse no Sambódromo fechado, prolongando por um ano a espera de centenas de milhares de seguidores da festa popular.

Este ano, muitos brasileiros estão também a celebrar o final do mandato do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro (2019-2022), marcado por numerosos cortes orçamentais na cultura. O Brasil é presidido novamente desde 1 de Janeiro pelo ícone de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, de volta ao poder depois de ter governado o país de 2002 a 2010. “É um renascimento, (…) após um período sombrio”, disse Pericles Monteiro, um dos fundadores do Céu na Terra, cujo tema para este carnaval é “as flores estão de volta”.

“O Carnaval é a alma do Brasil”
Os seus trajes adornados com flores multicoloridas, os 200 membros do grupo musical são seguidos por milhares de pessoas através das ruas estreitas e íngremes do bairro de Santa Teresa, perto do centro da cidade.

Alguns dos trajes têm um tom político e irónico: um casal de professores marcham nas camisolas amarelas da selecção nacional de futebol, de que os activistas bolonaristas se tinham apropriado. Excepto que o seu slogan não é “Brasil acima de tudo, Deus acima de tudo”, mas “Carnaval acima de tudo, cachaça (um álcool forte feito de cana de açúcar) para todos! “O Carnaval é a alma do Brasil. Cada povo tem o seu próprio festival por excelência. O nosso é o carnaval”, diz um dos dois professores, Caique Torres, 57 anos.

“É uma manifestação de democracia, uma celebração da vida. Mas o Brasil está a regressar de um período em que o poder político era contra o carnaval”, recorda Adair Rocha, director do departamento cultural da Universidade do Estado do Rio (Uerj).

5 milhões de pessoas esperadas nas ruas
Durante a campanha eleitoral, Lula reuniu-se com representantes das escolas de samba. Ele poderia ir aos desfiles do sambódromo, que têm lugar no próximo domingo e segunda-feira, 19 e 20 de Fevereiro, para as escolas mais prestigiadas, embora a sua presença ainda não tenha sido confirmada. Um vento de optimismo parece soprar este ano nos grandes hangares da Cidade do Samba, onde as escolas se preparam há meses para o carnaval, que termina após cinco dias de festividades na Quarta-feira de Cinzas.

“Sentimos que a cultura está a ser novamente realçada. Será o carnaval da redenção, da esperança”, diz Tarcisio Zanon, director artístico da Viradouro, campeão da grande competição de escolas de samba em 2020, a última edição antes da pandemia.

A Câmara Municipal do Rio espera que cerca de cinco milhões de pessoas participem no carnaval de rua deste ano, o que, só por si, injectará 1 bilião de reais (180 milhões de euros) na economia local. A excitação é palpável em Saara, o popular centro comercial da cidade onde os cariocas compram lantejoulas baratas, perucas e todo o tipo de acessórios malucos. “As pessoas querem festejar depois da longa espera”, diz o vendedor Marcelo Rodrigues.